Texto em português na sequência.
This weeks podcast is a conversation with Roberto Miguel, a chaplain at Moffitt Cancer Center in Florida, USA. Roberto shared his own story of loss and bereavement, and how he went through it feeling abandoned by God in a way, searching for meaning and for answers. It was a beautiful whole-hearted conversation and it made me reflect about it for the following days. I share with you some of my thoughts below.
It It is so challenging when we live in a busy world and the system is constantly asking for our productivity. In times we feel lost and in a quest for meaning, we might feel unproductive. We might need to stop a little in the outside, so that an inner movement can take place. A movement that paradoxically happens in a resting mode. Often we do not realize that there is an internal process happening; rearranging feelings, making space for new meanings in life. We feel a deepest loneliness when we feel lost, when we lose something or someone. Sometimes, these are the times when we realize that we had no idea where we were heading to, other times we feel we had everything figured out and we did not deserve the suffering we are going through. In these situations, spirituality can be a shelter, but it can also be a place of questioning, disappointments and frustrations.
In what way these questionings can propel the Vital Compass? I like to think that this dynamic can find a healthier balance when inner questioning happens free of guilt and sorrows, for instance: Who am I becoming? Do I feel I belong? How can I make sense of what had happened in my life? How do I offer something of value to the world?
Not knowing can be tremendously uncomfortable sometimes, specially during grief and bereavement. We live an urgent search for meaning. And when this questioning is lived with high levels of anxiety, it becomes even harder to find and create answers. Yes, because one aspect of this quest is finding and another one is making. Questions can be a companion, reminding us to breath and experience silence; reminding us of the importance of pause. To make these moments more bearable, we should surround ourselves with a loving compassionate aura. It can be through reading, connecting with people we love, mindfulness, meaningful memories, for example...And in this process of searching for an answer that does not exist yet, to cultivate spirituality can be a way to strengthen ourselves and to find symbols that help us in the construction of meaning.
Faith is involved in the mystery of our humanity in so many ways. I see faith as a silent presence in the days of not knowing, as this compassionate aura I mentioned above. Depending on the religious tradition, faith is approached differently. There is a lovely conversation in the book "The Power of the Myth" by Joseph Campbell and Bill Moyers:
JOSEPH CAMPBELL: I had a very amusing experience, which might be well worth telling. I was in the New York Athletic Club swimming pool, and you know, you don’t wear your collar this way or that way when you’re in a swimming pool. And I was introduced to a priest, “This is Father So-and-so, this is Joseph Campbell.” I’m a professor, he’s a professor at one of our Catholic universities. So after I’d had my swim, I came and sat down beside, in what we call, you know, the horizontal athlete situation, and the priest is beside me. And he said, “Mr. Campbell, are you a priest?” I said, “No, Father.” He said, “Are you a Catholic?” I said, “I was, Father.” He said, and now he had the sense to ask it this way, “Do you believe in a personal God?” I said, “No, Father.” And he said, “Well, I suppose there is no way to prove by logic the existence of a personal God.” And I said, “If there were, Father, what would be the value of faith?” “Well, Mr. Campbell, it’s nice to have met you.” And he was off. I really felt I had done a jujitsu trick there.
But that was a very illuminating conversation to me. The fact that he asked, “Do you believe in a personal God?” that meant that he also recognized the possibility of the Brahman, of the transcendent energy.
BILL MOYERS: Well, then, what is religion?
JOSEPH CAMPBELL: Well, the word religion means religio, linking back, linking back the phenomenal person to a source. If we say it is the one life in both of us, then my separate life has been linked to the one life, religio, linked back. And this becomes symbolized in the images of religion, which represent that connecting link.
I suppose there are many possible roads we can take in our quest for meaning as there are many ways to interpret the theme of spirituality, religion and faith. If you haven't read "The Power of the Myth", I recommend. The book is full of brilliant inspiring dialogues.It reveals how humanity have been creating myths in an incredible similar way, in times and places so distant, in order to make meaning out of human existence.
To amplify the manner of looking at ourselves, in a gentle way, and to understand how spirituality can offer support may contribute to the making of meaningful answers. To care for our spirituality can be a creative routine different than a religious ritual. By that we validate the important of the mysterious dimension in life, with no religion involved. I feel it is important to mention this, because I understand that it is easier to identify spiritual support when it is part of a religious context.(we can talk more about this in another post:-)
Life is sweet and sour; we have wonderful and terrible experiences. But in moments when life is sour, we can nurture ourselves of a loving attitude, so then religion, spirituality and faith can help us calibrate our vital compass and our silent journey can be gentle.
Fé, sentido, perguntas... Uma busca
O podcast dessa semana é uma conversa com Roberto Miguel, capelão no Moffitt Cancer Center na Flórida, Estados Unidos. Roberto compartilhou sua história de perda e luto e como ele atravessou um período se sentindo abandonado por Deus, de uma certa forma, buscando por respostas e significados. Foi uma conversa de coração presente, que me trouxe várias reflexões nos dias seguintes. E eu compartilho com vocês alguns dos meus pensamentos abaixo.
Vivemos em um mundo desafiador, que está sempre ocupado e nos ocupando, o tempo todo - um sistema que busca produtividade constante. No momento em que nos sentimos perdidos, em busca de sentido de vida, nós podemos nos sentir improdutivos. Parar, pausar, é preciso, para que haja um movimento interno também. Um movimento que paradoxalmente acontece no repouso. Muitas vezes não reconhecemos que internamente ha um processamento intenso acontecendo; com ele estamos nos reorganizando, criando espaço para novos sentidos na vida. Nos vemos profundamente sozinhos quando nos sentimos perdidos ou perdemos algo ou alguém. Às vezes, é nessa hora que nos damos conta de que a gente não sabia nem pra onde é que estava indo, ou que a gente já tinha a vida toda planejada e não merecemos o sofrimento que aconteceu. Em situações de perda a espiritualidade pode ser um refugio, mas também pode ser um lugar de muitos questionamentos, desapontamentos e frustrações.
De que forma esses questionamentos podem impulsionar a Bússola Vital? Gosto de pensar que essa dinâmica pode encontrar um equilíbrio mais saudável quando o questionamento interno acontece livre de culpas e mágoas, por exemplo: Quem estou me tornando? Sinto que pertenço a esse lugar? O que pode me ajudar a entender o que está acontecendo? Como posso oferecer algo de valor pro mundo?
Não saber pode ser uma experiência bem desconfortável por vezes, especialmente durante momentos de perda e luto. Vive-se uma busca em uma atitude urgente de "não sei e preciso saber". E quando essa busca é vivida com ansiedade mais elevada, vai ficando cada vez mais difícil de encontrar e construir as respostas. Sim, porquê uma parte do processo é um encontro e a outra, uma construção.
As perguntas podem ser companheiras também, nos lembrando de respirar e experimentar o silêncio, nos lembrando da importância da pausa. O mais importante para fazer esses momentos mais suportáveis é se cercar de uma aura amorosa e compassiva. Isso pode surgir através de leituras de temas relacionados ao momento, conexão com pessoas queridas e acolhedoras, atenção plena, resgate de memórias significativas, por exemplo...E nesse processo de busca por uma resposta que não existe ainda o cultivo da espiritualidade pode fortalecer a nossa estrutura interna e oferecer símbolos que nos ajudem na construção de sentido.
Fé é parte de um mistério pra nossa humanidade de tantas formas diferentes. Eu vejo fé como uma presença silenciosa em dias de não saber, como essa aura companheira que mencionei acima. Mas dependendo da religião, a fé é abordada de um jeito distinto. No livro "O Poder do Mito" tem um diálogo maravilhoso entre Joseph Campbell e Bill Moyers sobre isso:
JOSEPH CAMPBELL: Eu tive uma experiência maravilhosa , que pode ser interessante compartilhar. eu estava na piscina do New York Athletic Club, e você sabe que não dá pra saber qual a profissão das pessoas quando estamos na piscina. E eu fui apresentado ao um padre “Esse é o padre Fulano, esse é Joseph Campbell.” . Eu sou professor, ele é professor também, mas de uma universidade Católica. Então, depois de nadar, eu fui sentar do lado dele naqueles bancos ao lado da piscina. O padre está ao meu lado e diz, “Sr. Campbell, você também é padre?” eu digo, “Não, Padre.” Ele diz, “Você é católico?”, eu digo, “Eu já fui, Padre.” Ele diz, e agora ele me pergunta desse jeito, “Você acredita em um Deus pessoal (personal God)? E eu disse, “Não, Padre.” E ele disse, “Bem, eu suponho que não seja possível provar a existência de um Deus pessoal através da lógica.” E eu disse, “Se fosse possível, Padre, qual seria o valor da fé? ” “Bem, Sr. Campbell, foi um prazer conhecê-lo.” E ele foi embora. Eu senti que eu tinha feito um truque de jujitsu nele. (risos)
Mas aquela foi uma conversa esclarecedora pra mim. O fato de ele ter perguntado “Você acredita em um Deus pessoal (personal God)?" significou que ele também reconhecia a possibilidade de Brahman, de uma energia transcendente.
BILL MOYERS: Bem, então o que é religião?
JOSEPH CAMPBELL: a palavra religião significa religio, religar, unir novamente o fenômeno da existência da pessoa a sua fonte de origem. Se dizemos que há uma única vida em nós dois aqui, então minha vida separada é religada a essa vida única, religio, religar. E isso se torna simbólico através das imagens religiosas que representam essa ligação."
Existem várias estradas que podemos tomar em nossa busca por sentido e também várias formas de interpretar o tema da espiritualidade, religião e fé. Se você não leu o livro "O Poder do Mito", eu recomendo. Ele é cheio de diálogos brilhantes, inspiradores. Revela como a humanidade construiu mitos tão semelhantes, em cantos e tempos distintos, pra dar conta do sentido da existência humana.
Ampliar o olhar, de forma gentil, para si mesmo e entender de que forma a sua espiritualidade está te amparando pode contribuir para a construção de sentidos. Cuidar da espiritualidade pode ser uma rotina criativa diferente de um ritual religioso. Estarmos atentos para isso é uma forma de validar a importância dessa dimensão mais misteriosa da nossa vida, sem a religião envolvida. Acho importante mencionar isso, porque entendo que costuma ser mais fácil identificarmos o suporte nessa dimensão quando inserido em contextos religiosos.
A vida é doce e amarga; temos experiências maravilhosas e outras horríveis. Mas em momentos quando a vida é amarga podemos nos nutrir de uma atitude amorosa, para que assim a religião, a espiritualidade e a fé possam nos ajudar a calibrar a nossa bússola vital e nossa caminhada silenciosa possa ser mais leve.
Comments